07 dezembro 2008

Lições de Santa Catarina: de Brasília a Poznan

ROBERTO SMERALDI,
Jornalista, diretor da Oscip Amigos da Terra – Amazônia Brasileira.
Coluna: Tendências/Debates – Folha de S. Paulo – 2/12/2008
.
Estão [parcialmente] errados os observadores que atribuem o recente desastre de Santa Catarina apenas ao desmatamento na Amazônia. É verdade que esse é um forte determinante – tanto por meio de mudanças climáticas regionais quanto globais – dos fenômenos climáticos extremos, assim como tudo indica que aquilo que aconteceu nos últimos dias faça parte dessa categoria.
A ciência já identificou – apesar de não explicar completamente – a complexa relação que vincula as alterações na troca de umidade entre a floresta e a atmosfera na região amazônica tanto com o regime pluvial na bacia do Prata quanto com a convecção do vapor que afeta a temperatura da camada superficial dos oceanos, importante fator na geração de furacões e outros eventos catastróficos.
Mas a natureza extrema do fenômeno climático que afetou Santa Catarina não é suficiente para explicar a dimensão dos impactos. Há também a vulnerabilidade sem precedentes do nosso território diante de um clima exacerbado.
Independentemente de nossa capacidade de adotar medidas efetivas para mitigar a crise climática, teremos, de qualquer forma, uma intensificação de eventos extremos nas próximas décadas, além do que ocorreu nesta, já sem precedentes. Podemos e devemos fazer muita coisa, agora mesmo, para mitigar essa tendência na segunda parte do século e naqueles vindouros, mas, infelizmente, já é tarde para evitá-la no curto prazo.
A vulnerabilidade extrema do território de Santa Catarina – e de outras importantes regiões do país – é devida principalmente a desmatamento local, com alterações expressivas no uso do solo e na gestão das águas.
Se o Código Florestal tivesse sido respeitado, especialmente no que diz respeito às áreas de preservação permanente [APP] – que incluem topos de morro, encostas e matas ciliares –, não veríamos erosão e assoreamento nessa escala.
Fator agravante é a crescente população localizada em áreas de risco, o que reflete peculiar sensibilidade social por parte de nossos governantes: se preocupam tanto pelas populações mais carentes que até se negam a retirá-las de onde a morte as ameaça.
Mas há outras contradições paradoxais, na contramão da história: enquanto as manchetes contabilizam as vítimas, no Congresso Nacional se cogita – acredite se quiser – “flexibilizar” o Código Florestal, tanto no que diz respeito ao desmatamento em geral [a chamada reserva legal] quanto em relação às citadas APPs. Em ambos os casos, a base do raciocínio é o reconhecimento do fato consumado.
Prevalece ainda a hipócrita cultura do perdão, que, por trás de sua fachada de bondade, implica a socialização dos prejuízos e, muitas vezes, assume a vitimação até mesmo de seus supostos beneficiários. Isso caracteriza a relação de um regime autoritário com seus súditos, e não de uma democracia com seus cidadãos, que exige responsabilidade, certeza do direito e cobrança mútua.
Assim, mete-se a mão no bolso do contribuinte para enfrentar os danos da calamidade, mas não se realizam os investimentos, bem mais modestos, que poderiam fomentar a restauração das florestas, a recuperação das áreas alteradas e a proteção civil do território, além do desenvolvimento de uma economia de uso dos recursos florestais. Se tivermos, como contribuintes, de subsidiar alguma coisa no interesse supremo da sociedade, deveria ser a eliminação dos passivos. Ao contrário, subsidia-se, mediante a impunidade e a tolerância, a manutenção desses passivos, o que custa muito, muito mais caro.
Nosso Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas foi lançado ontem – o que vale uma comemoração –, mas com metas pífias para a Amazônia e sem meta para cerrado – que se tornou hoje a primeira fonte de emissões do país – e mata atlântica, essencial para diminuir a vulnerabilidade de nossa população.
Prevalece ainda pernicioso provincianismo, pelo qual, ao reduzirmos de fato nossas emissões, estaríamos atendendo a interesses alheios antes dos nossos legítimos. Daí a preocupação em não assumir compromissos de descarbonização competitiva da nossa economia sem contrapartida no contexto internacional. Quantos mortos são necessários para entender que estamos entre os países mais vulneráveis à mudança climática?
Nesta semana, em Poznan, se reúne a convenção de clima: o Brasil está no topo da agenda da “mitigação” – por estar regularmente entre os cinco principais poluidores –, mas também daquela da “adaptação”, por sofrer as conseqüências mais graves da mudança em termos de saúde, segurança costeira, agricultura e eventos catastróficos.

05 dezembro 2008

WILLIAM BONNER MANDOU ou, A VIDA SEGUE ou, O QUE NÓS TEMOS COM ISSO?

Ao vir do aeroporto, comentou com o motorista: "Como uma cidade turística, feito a nossa, permite essas favelas horrorosas logo na chegada?!".

Em casa, arrumou criteriosamente roupas, sapatos e cobertores; separou conservas e biscoitos. Abarrotou um carro grande, e mandou entregar tudo no posto de arrecadação da academia. Ao imaginar os desabrigados do Vale recebendo suas coisas, sentiu-se redimida – o Natal está aí, já poderia bater pernas.

Antes de sair, recomendou ao filho: "olho na faxineira que, se bobear, leva a despensa pra casa!"; já na rua, fez graça com o porteiro: "fica esperto seo Chico; se esse negócio de aquecimento global for pra valer, daqui a pouco a maré alcança aquele casario nas dunas!...".

25 novembro 2008

CIÊNCIA*

“Não penso em nossas academias e seus representantes. Sou médico e lido com pessoas simples. Sei, por isso, que as universidades não são mais fonte de conhecimento. As pessoas estão cansadas da especialização científica e do intelectualismo racional. Elas querem ouvir a verdade que não limite, mas amplie; que não obscureça, mas ilumine; que não escorra como água, mas que penetre até os ossos. (...)
O emaranhado babilônico do espírito ocidental produziu uma tal desorientação, que todos anseiam por verdades mais simples ou, pelo menos, por idéias que falem não somente ao intelecto, como também ao coração, trazendo clareza ao espírito observador e paz ao incessante turbilhão de sentimentos.”
[O Segredo da Flor de Ouro – Um Livro de Vida Chinês].

Carl Gustav Jung
1875 – 1961
.
(*) Título criado pelo autor do blog

LUZ *

Nosso maior medo não é que sejamos inadequados.
Nosso maior medo é de sermos imensamente poderosos.
É a nossa luz, não nossa escuridão, que mais assusta.
É nossa luz, não nossa sombra, que mais nos apavora.
Perguntamo-nos:
Quem sou eu para ser brilhante, maravilhoso, talentoso, fabuloso?
Mas realmente: Quem és tu para não o seres...?
De nada serve ao mundo fazer-te de pequeno.
Não há nada de especial em te encolher para que outras pessoas
Não se sintam inseguras em tua presença.
Nascemos para irradiar a glória da vida e da luz, como as crianças fazem.
Nascemos para manifestar a glória de Deus que está dentro de nós.
E não somente em alguns de nós; está em todos nós.
E na medida em que deixamos brilhar nossa própria luz,
Inconscientemente damos permissão a outros para fazerem o mesmo.
Quando somos liberados de nosso próprio medo,
Nossa presença automaticamente libera outros.


Rainer Maria Rilke
1875 – 1926
.
(*) Título criado pelo autor do blog

SENTIRPENSAR *

Em meu tempo – quero dizer, por volta de 1900 –, todos os artistas, bons e ruins, costumavam falar de sentimento: Eu sinto isso, ou eu não sinto, ou isso é muito sentido.
Pouco a pouco, tal maneira de se expressar foi se perdendo. Se foi substituindo o sentir pelo pensar e sobre esta inteligência – o pensar – se quis fundar tudo. Por isso, as contas não fecharam e é a falta de humanidade que encontramos hoje na arte.
Bem, a arte grega era serena, mas não fria; era estética, pura, mas tinha humanidade. Se era pensada, ao mesmo tempo era sentida.
Pois bem, creio que agora em nosso problema, todo o cerne da questão está lá. Seria justamente esse o equilíbrio: pensar, combinar e estruturar, mas que tudo isso – e até o básico do tema, o pretexto – seja sentido.


Joaquín Torres-García
1874 – 1949
.
(*) Título criado pelo autor do blog

23 novembro 2008

...

no funeral
das personagens
quase tudo era eu

[pai irmão amigo amante
filho mãe cidadão escravo
jovem velho up to date]

sofri aos pedaços
aos milhares de "Nós"
sumi para sempre nos sonhos

de manhã o sol iluminou
pela primeira vez
o que sempre esteve


aqui
.

22 novembro 2008

15 novembro 2008

PARA UNS...

como
palmeiras, hibiscos e ervas;
caracóis, lagartas e sapos;
lençóis freáticos e lagoas;
banhados, riachos e nascentes;
tatus, lebres e muriçocas;
vacas, ovelhas e tamanduás;
patos, marrecos e peixes;
encostas e planícies verdes em geral


ESSA CHUVARADA TÁ BEM BACANA!

13 novembro 2008

Ensaio Sobre a Cegueira

Cegos de luz. Não de escuridão e ausência, mas de excesso. Desta forma o autor expressa, a meu ver, o estresse último dos sentidos. A interrupção abrupta da visão pelo uso exacerbado da imagem, num mundo onde tudo é o que parece ou pretende ser. Mas a obra nos alerta: o que os olhos não vêem o coração sente. Para além da imagem o ser, ou: sob a superfície do corpo – que em determinadas circunstancias nos levaria a barbárie –, o espírito e a humanidade menos rasa.

Assisti e recomendo: Ensaio Sobre a Cegueira – o filme.
[Sem nenhuma pretensão a crítica cinematográfica; apenas compartilhando impressões].

02 novembro 2008

!

cheguei
de onde nunca sai
aqui
..........o endereço
.................sou eu
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.

16 outubro 2008

RELIGARE

Sim, uma nova ordem , mas que não se imponha, feito desde sempre, pela força bélica, econômica, política, cultural, mas que possa ser gestada, inventada, sob uma nova ética humanista, solidária.

Depois de séculos ocupados em fragmentar e com par ti men tar o mundo e a nós mesmos para tentar, a partir das partes, e depois micro partes, chegarmos a alguma compreensão, nos vemos imersos num quebra-cabeças esquizóide de remontagem improvável.

Podemos dizer que o combustível cartesiano esgotou-se, mas, ainda assim, seguimos como um trem desgovernado em movimento inercial.
 

O momento histórico é de inflexão. Precisamos perceber e compreender o todo, de uma só vez, para então podermos acolher e re-conectar as múltiplas partes, facetas, estilhaços de um mundo complexo, porém indivisível, indissociável.  

A palavra chave é religar [do latim religare, religione, daí religião]. Religarmo-nos ao fluxo natural da existência. Religar sentimentos-pensares-palavras-desejos-atitudes; religar o eu-ao-todo-mundo, o meu-ao-que-é-de-todos.
 
Através de nossa própria cura [de um novo estado de sermos no mundo], a Terra, que é parte de nós como somos dela, encontrará-encontraremos os meios para curar suas-nossas feridas. A partir do centro, sol, coração do homem, planeta, universo.

A energia que cria [e mantém] a vida também nos conduz a um movimento constante de expansão. Tudo tende [almeja] à evolução, irreversivelmente. O novo virá com ou sem dor, com ou sem aceitação, compreensão. Esse é o espaço do arbítrio.

O desequilíbrio planetário gerado pela busca incessante, insaciável, por segurança, poder e acumulação deve ser realinhado por nós mesmos, representantes da espécie no momento presente.

Sim, há recursos de toda ordem. É preciso apenas redistribuí-los; redireciona-los numa escala de valores e prioridades há muito esquecida: a velha e boa escala humana.

11 outubro 2008

SAL

a escada sob o sol
o pomar
as semprevivas sob o sol

o cheiro
o gosto do sal
nas folhas de couve
maças verdes
ameixas

pêssegos maduros
a poeira da estrada
nas narinas, nos cabelos
.a lagoa espelhando
marrecos e éguas
nuvens e sol
.
ah, o sol
.
.[“a coisa mais certa de todas as coisas
não vale um caminho sob o sol”]*


(*) frase da música "Força Estranha", de Caetano Veloso

07 outubro 2008

STOP

.
.
.
parem

...........as máquinas
...........as guerras
parem de correr

deixem

............as crianças
............o amor e a vida
deixem o planeta

............em paz
.
.
.
.
.


30 agosto 2008

16 agosto 2008

+ / -

vive sempre mais ou menos
morre mais ou menos sempre
.
vive sempre mais ou menos
morre mais ou menos
.
sempre
se segura
dura
..
se atura

25 julho 2008

07 julho 2008

GAIA – James Lovelock*

A hipótese que desenvolvi, conhecida como Teoria de Gaia, entende a Terra como um imenso organismo vivo. Como tal, esse organismo pode desfrutar de boa saúde ou simplesmente adoecer.

A Teoria de Gaia fez de mim um médico planetário e o que faço aqui é uma séria análise técnica. Nesse momento, tenho a obrigação profissional de trazer uma má notícia a vocês: os centros de análises climáticas em todo o planeta, que são os equivalentes aos laboratórios de patologia dos hospitais, analisaram as condições físicas da Terra e constataram que ela sofre de uma grave doença. Ela está a ponto de contrair uma febre fatal que poderá durar cerca de 100 mil anos.

Como médico, devo dizer a você, que é membro dessa grande família chamada Terra, que toda a sua civilização está correndo um grave perigo.

Nos últimos três bilhões de anos nosso planeta manteve-se saudável e apto a permitir o desenvolvimento da vida de modo natural. Mas nós poluímos e arranhamos em excesso esse paciente, e o fizemos num momento em que o Sol está superaquecido. Assim, provocamos em Gaia uma febre que agora está se transformando em estado de coma. A Terra já passou por uma situação trágica como essa e demorou mais de 100 mil anos para se recuperar. Nós somos responsáveis por essa nova onda febril e sofreremos duramente as suas conseqüências.

Se continuarmos nesse ritmo que conduz ao desequilíbrio ambiental, ainda neste século a temperatura se elevará em cerca de 8°C nas regiões temperadas e 5°C nos trópicos. Grande parte da massa tropical da Terra se tornará deserta, limitando ainda mais os seus mecanismos de auto-regulação. Some-se a isso o fato de que já devastamos 40% de sua superfície com as atividades industriais e agropecuárias e as perspectivas se tornam ainda mais sombrias.

Curiosamente, a poluição causada pelo uso de aerossóis no Hemisfério Norte reduz o aquecimento global ao criar uma camada que reflete a luz solar de volta ao espaço. Esse “escurecimento global” é transitório e poderá desaparecer em pouco tempo, deixando-nos inteiramente expostos ao calor da estufa global. Nesse momento, vivemos um clima enganoso, que é mantido acidentalmente fresco pela camada de poluentes. Porém, o desenlace mais provável é que bilhões de pessoas morrerão antes do final do século XXI.

Nós não estamos percebendo que a Terra regula sintomaticamente seu clima e sua composição. Se nos elegermos como administradores do planeta, automaticamente nos tornaremos responsáveis por manter sua atmosfera, oceanos e superfícies sempre favoráveis à vida. Logo descobriremos que essa é uma tarefa impossível de ser realizada. Afinal, temos retribuído com devastação desenfreada a todas as comodidades que o planeta nos tem graciosamente oferecido por milênios.

Nós vimos a Terra do espaço e, lá de cima, pudemos percebê-la como um organismo vivo. Sabemos que não podemos poluir o ar ou usar a superfície terrestre – os ecossistemas de suas florestas e oceanos – como uma mera fonte de produtos para nos alimentar e fornecer mais conforto. Sabemos instintivamente que esses ecossistemas devem ser preservados porque fazem parte da Terra viva.

Sendo assim o que deveríamos fazer? Primeiramente, temos de nos conscientizar do ritmo acelerado em que as mudanças ambientais estão ocorrendo. E também de como temos pouco tempo para agir se quisermos evitar o pior. Diante da urgência desse quadro, cada comunidade e cada nação devem fazer o melhor uso de seus recursos para garantir a sobrevivência da civilização pelo maior tempo possível. A civilização é movida a energia e nós não podemos simplesmente desligá-la. Portanto, necessitamos de uma redução de consumo em bases seguras. Devemos ser conscientes de que devemos pensar na humanidade como um todo e não apenas em nós mesmos.

A mudança ambiental é global, mas cada região do globo tem suas particularidades. Eu, por exemplo, moro na Inglaterra. Nós, cidadãos britânicos, temos de tratar das conseqüências aqui no Reino Unido. Infelizmente, temos tantas áreas urbanizadas em nossa nação que hoje somos praticamente uma única grande cidade. Restaram pouquíssimas áreas para a agricultura e para a preservação das florestas.Assim, nós ingleses, dependemos do mundo para sobreviver. A mudança climática irá nos negar as fontes de alimento e de combustível que vêm de outros países. Na Inglaterra, podemos até crescer mantendo um nível de consumo como o que adotamos durante a Segunda Guerra Mundial. Mas chega a ser ridícula a idéia de que meu país tem terra suficiente para produzir biocombustíveis ou para implantar fazendas movidas à energia eólica.

Tenho certeza de que nós, ingleses, faremos de tudo para sobreviver. Mas infelizmente não vejo os Estados Unidos ou as grandes economias emergentes, como a China e a Índia, voltando no tempo. O pior é que sabemos que esses países são os que mais emitem gases na atmosfera. A catástrofe irá ocorrer e os sobreviventes terão de se adaptar a um clima infernal.

Na nossa relação com a Terra, não somos meramente uma doença. Com nossa inteligência e nossa capacidade de comunicação, somos o sistema nervoso do planeta. Através de nós, Gaia foi vista do espaço e ganhou consciência de seu lugar no Universo. Devemos, portanto, ser o coração e a mente da Terra. Teremos de ser fortes e parar de pensar unicamente em nossos direitos e necessidades. Precisamos tomar consciência de que prejudicamos a vida na Terra e temos de fazer as pazes com Gaia. Devemos fazer isso enquanto ainda somos fortes o bastante para negociar, e não quando formos hordas acéfalas, conduzidas por brutais Senhores da Guerra. Sobretudo, devemos recordar que somos parte da Terra e que ela é, antes de tudo, o nosso lar.

(*) Nascido em 26 de julho de 1919, James Ephraim Lovelock é pesquisador independente e ambientalista. Criou a Teoria de Gaia para explicar o comportamento sistêmico do planeta Terra. Após estudar química na University of Manchester obteve um cargo no Medical Research Council do Institute for Medical Research. É Ph.D. em medicina no London School of Hygiene and Tropical Medicine. Tem conduzido pesquisas em Yale, Baylor University College of Medicine, e Harvard University. Inventou diversos instrumentos científicos utilizados pela NASA para análise de atmosferas extraterrestres e superfície de planetas. Inventou o Detector de Captura de Elétrons, que auxiliou nas descobertas sobre a persistência do CFC e seu papel no empobrecimento da camada de ozônio.

14 junho 2008

CÁ ENTRE NÓS

Famílias
VOCÊ PRECISA ATENDER AS MINHAS EXPECTATIVAS; EM TROCA EU LHE DAREI SEGURANÇA E CONFORTO; VOCÊ SABE QUE O MUNDO LÁ FORA É UMA GUERRA...

Amigos
VOCÊ PRECISA ATENDER AS MINHAS EXPECTATIVAS; EM TROCA EU LHE DAREI SEGURANÇA E CONFORTO; VOCÊ SABE QUE O MUNDO LÁ FORA É UMA GUERRA...

Amantes
VOCÊ PRECISA ATENDER AS MINHAS EXPECTATIVAS; EM TROCA EU LHE DAREI SEGURANÇA E CONFORTO; VOCÊ SABE QUE O MUNDO LÁ FORA É UMA GUERRA...

Patrões
VOCÊ PRECISA ATENDER AS MINHAS EXPECTATIVAS; EM TROCA EU LHE DAREI SEGURANÇA E CONFORTO; VOCÊ SABE QUE O MUNDO LÁ FORA É UMA GUERRA...

Estados
VOCÊ PRECISA ATENDER AS MINHAS EXPECTATIVAS; EM TROCA EU LHE DAREI SEGURANÇA E CONFORTO; VOCÊ SABE QUE O MUNDO . É UMA GUERRA...

Você
QUEM É MESMO...?

08 junho 2008

GENTE

Que tipo de gente insiste em acreditar que, sob a superfície das coisas, existe um universo a desvendar; um mundo inexplorado para além da aparente e banal realidade? Quem são os que buscam o sentido da vida e passam despercebidos como quem segue o rebanho?

Qual paralelas no infinito, compartilhamos um ponto essencial. Conectar tal essência, um vislumbre que seja, nos tocará para sempre, feito um barqueiro divisando o norte.

01 junho 2008

SERMOS

sermos costões rochosos e água espuma e sal apegarmo-nos a
terra feito ostras e berbigões sermos dunas e praias mangues e
jerivás voarmos à luz inigualável desses horizontes sermos
garças gaivotas e biguás expandirmo-nos em azuis emergentes
arrastando algas conchas e caranguejos singrarmos mares
outros sem guarida ou fronteira feito golfinhos tainhas e baleias
sermos viageiros sem porto o que não se ata ou se afivela
abraçarmo-nos irremediavelmente ao agora e nos lançarmos ao risco do eterno sermos do todo indissociáveis porém suficientes
o que não se explica mortais e para sempre sermos ilha

É

sol morno de outono
nuvens em carneirinhos
grama verde
mar
um piado aqui,
um zumbido ali
paz

– Isso é o céu!?
– É...
– Então morri?
– Em parte sim...
– Qual parte?
– A que dói.

15 maio 2008

NO MEU NÃO

Transcorrido um bom tempo em que estivemos ouvindo concidadãos, acompanhando o Plano Diretor Participativo, pudemos detectar um tipo especial que vive em todos os cantos da cidade. Vamos chamá-lo genericamente de “NO MEU NÃO”. Ele tem um desiderato próprio, resumido aqui em dez itens. Podem ser acrescentados muitos outros – a lista está aberta:

1. QUERO reduzir a poluição, retirando automóveis das ruas,
MAS O MEU NÃO.
2. QUERO que o solo na cidade seja menos impermeabilizado,
MAS NO MEU LOTE NÃO.
3. QUERO que meu bairro tenha mais escolas e creches,
MAS NA MINHA RUA NÃO.
4. QUERO verticalizar as construções para ter mais áreas livres,
MAS NO MEU BAIRRO NÃO.

5. QUERO poder ter empregados e que eles morem dignamente,
MAS NO MEU BAIRRO NÃO.
6. QUERO terminais e vias amplas para o transporte coletivo,
MAS NO MEU BAIRRO NÃO.
7. QUERO ser sepultado ou cremado quando partir pra outra,
MAS NO MEU DISTRITO NÃO.
8. QUERO meu lixo reciclado ou aterrado,
MAS NO MEU DISTRITO NÃO.
9. QUERO meu esgoto tratado e devolvido à natureza,
MAS NO MEU DISTRITO NÃO.
10. QUERO liberdade para que cada brasileiro more onde quiser,
MAS NA MINHA CIDADE NÃO.

11...

28 fevereiro 2008

OFENSA

Eu boto minha mão no fogo!
A
expressão popular, que remonta à idéia de arriscar-se à fogueira em defesa da inocência alheia, está perdendo significância.

O flanelinha da praça avisou: “A coisa anda tão feia doutor, que nem por si mesmo neguinho arrisca a pele!”.
Pois é... o que temos assistido – ao vivo e a cores – é a perda total de referenciais públicos de ética e honradez.

Dia desses, conversando sobre a iniciação dos jovens à vida adulta, lembramos que em quase todas as tradições os rituais de passagem eram guiados pelos mais velhos e sábios de cada comunidade.
Então, pensemos rápido: Quem são os sábios de hoje?

Nos primórdios da democracia, o senado era destinado aos luminares da nação; aqueles com clarividência para os momentos difíceis e as questões menos simples. Os religiosos de todos os tempos desde pajés e magos, passando por sacerdotes das mais diversas doutrinas, representaram um norte para as civilizações.

Já houve um tempo – acreditem meninos – que chamar alguém de deputado era saudação elogiosa; o jovem que abraçava a vida religiosa era motivo de orgulho para a família, e obtinha atestado vitalício de boa índole, lucidez e sobriedade.

Num momento crucial para a humanidade, o que podemos dizer desses antigos referenciais e das mais recentes celebridades? [Sem falar nos big brothers, claro!]. Ontem, brincando com um amigo disse que seus cabelos brancos lhe davam um ar de senador. Ele, também brincando – mas não muito –, disse que eu “não precisava ofender...”.

A grande mídia nos ensina: os homens e mulheres notórios deste tempo estão mais interessados em desfilar vaidades, ou digladiar-se por projeção social e dinheiro, do que em servir de farol para quem quer que seja.

Diante dessa carência generalizada de maturidade, não é de se admirar que a garotada queira ficar longe, pelo maior tempo possível, do chamado mundo adulto – então, temos “adolescentes” com mais de trinta anos aos montes por aí. E não nos enganemos, achando que é apenas uma circunstância econômica ou mero comodismo. A verdade é que
ser “gente grande” não é mais tão atrativo...

Um amigo médico me passou esta “ficha”: como as pessoas não estão conseguindo se interiorizar e encontrar um sentido para as próprias vidas, acabam lotando os consultórios e laboratórios em busca de exames – cada vez mais sofisticados –, para então, de alguma forma, verem-se por dentro...

É tragicômico sim, mas certamente não é brincadeira.

Eu acho mesmo que é por aí – e só por aí – a saída para a ratoeira planetária em que nos enfiamos: ou cada indivíduo trata de se conscientizar e crescer de verdade – e não falamos de usar anabolizantes na academia – ou, como naquele filme do ratinho Roddy, iremos todos, literalmente, “por água abaixo...”.

03 fevereiro 2008

CINZAS

Teu lugar no meu braço
Estaria ainda quente,
Se o tomasses
Naquele instante

E rodaríamos pelas avenidas,
Riríamos muito e nos olharíamos
Em gestos nossos
Simples e suficientes

Feito um filme que recomeça,
Após um lapso em que a luz se acende,
Seguiríamos felizes
Como se tudo tivesse acontecido

16 janeiro 2008

FOI MAU

Sempre vivemos em familia; a liderança é naturalmente exercida por um casal adulto. Os demais integrantes são filhos ou, eventualmente, parentes jovens.

Quando a mãe vai ter um bebê, passa algum tempo recolhida e protegida pela família; o novo irmão será apresentado ao mundo assim que estiver crescido o suficiente. Todos os maiores são responsáveis por todos os menores.

Nos revezamos vigiando as áreas comuns e providenciando sustento para todos – p
ara obter a proteína necessária agimos com sabedoria e paciência, procurando não prejudicar a sobrevivência dos que nos servem de alimento. Geralmente abatemos os animais mais velhos, feridos, doentes, ou filhotes menos aptos. Essa atitude seletiva acaba tornando aquela manada mais saudável.

Quando nossos filhos crescem, afastam-se naturalmente – os tempos solitários são os mais difíceis, pois aprendemos que o indivíduo é a força do grupo e vive-versa.
Os jovens errantes se exibem e cantam para atrair um(a) parceiro(a) que irá compor o núcleo de uma nova família. Também cantamos para anunciar um projeto comum, pedir ajuda, reunir companheiros, ou simplesmente pelo prazer de estar sob a lua.

Infelizmente nossa sociedade começou a definhar quando passamos a acompanhar uma outra e tornamo-nos seus companheiors inseparáveis – a ponto de considerá-los como iguais.

Há algum tempo, estávamos distribuídos por quase todo o planeta, mas hoje deixamos de existir na maior parte – já fomos definitivamente expulsos dos Estados Unidos e do Japão, e na Europa estamos seriamente ameaçados.

Apesar dos mitos a nosso respeito, somos muito importantes para a biodiversidade, e nossa extinção tem causado graves desequilíbrios.

Somos os mamíferos que há mais tempo compartilham a vida com humanos. É irônico estarmos sendo mortos justamente por aqueles a quem ajudamos nos tempos difíceis e a quem protegemos a custa de nossa própria segurança.

Pois então... eu sou canis lupus, o lobo; sim, aquele que vocês apelidaram de “lobo-mau”, lembram? O tetra-avô do simpático bichinho que vocês chamam de Totó, Rex, ou sei lá.

Valeu “gente”!! Estamos aí – por enquanto...