31 dezembro 2009

2010

tempo
de perceber

o bom
[e o bem]
que está

e sempre esteve
aqui

para quem
tem
olhos de ver
nariz
ouvidos de ouvir
boca
pele de tocar

alma
de saber
[o que]
agradecer
.
.

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DA GENTE

a. c h u v a .c h o v e
o. s o l. l u z
o .v e n t o. v e n t a
o. h u m a n o. h u m a n i z a

?
o .g e l o. g e l a
o. v e r d e. v e r d e j a
o. r i o. f l u i

18 dezembro 2009

NATUREZA

se chove iii
ventando aaa
se esquenta ooo
brilhando eee
se esfria uuu
.
enquanto ela
apenas é
e não está nem aí
pras nossas vogais
.

13 dezembro 2009

r e n a S c E R

.
a cada ramo que brota  
verticalmente a partir do centro,
e depois se inclina,
a palmeira é mais alta,
equilibrada
e profunda.

acolhe pássaros,
dá frutos, ar e sombra;
pende ao vento,
mas renasce e cresce,
em cada folha,

a partir d
o próprio centro.
.
.

09 dezembro 2009

AGORAQUI *

nascemos na hora em que se nasce
[inventamos então o tempo e penduramos a vida na folhinha]
choramos no lugar onde se chora
[inventamos então o presente de aniversário e o passado embalsamado]
comemos na hora em que se come
[inventamos então a miséria e nos preparamos para o futuro]
gritamos no lugar onde se grita
[inventamos então a pólvora e caçamos lebres na primavera]
paramos na hora em que se para
[inventamos então as ampulhetas e os big bens]
compramos no lugar onde se compra
[inventamos então as coisas e os desejos em série]
amamos na hora em que se ama
[inventamos então os pesticidas para lagartas, borboletas e margaridas]

e rezamos no lugar onde se reza
pecamos na hora em que se peca
dançamos no lugar onde se dança
juramos na hora em que se jura
esquecemos no lugar onde se esquece
e traímos na hora em que se trai

e, então, morremos na hora em que se morre:
paramos a roda imaginária
criamos um sentido mais sentido
vivemos o eterno agora
universo aqui
big bang já

e nascemos na hora em que se nasce

[*] Breve releitura do poema "Sentido", do livro "Ao Coração da Coxilha Rica.

31 outubro 2009

OBJETO MULHER

Recebi de uma amiga a notícia de que os suecos inventaram um objeto-mulher que se assemelha, em mais de 90%, com a já obsoleta mulher-objeto. É sério... Depois da coisificação da mulher, vem aí a “mulherização” da coisa.

Penso que talvez seja a hora de refeminizar a mulher [a original, claro]; ou ir ainda mais longe e tentar o que parece impossível: reumanizar o homem [a espécie, claro].


É só uma ideia...

24 outubro 2009

LÁ, SIM

reconhecemos facilmente
o brilho
no estrangeiro, no distante,
no diverso.

enxergar a luz no par,
no próximo, no igual,
seria espreitar a face
de nossa própria mediocridade......................................................................?

20 outubro 2009

o que é o que É?

estar. informado

separece.com
.

s....a....b....e....r
.................................................................. ?

Ó

as palavras
atravessam

a experiência
..............fica

....  ..forma
trans f.o.r.m.a

09 outubro 2009

TAO*

Conta-se que, certa vez, um discípulo do demônio chegou correndo e lhe disse: “O que você está fazendo sentado aqui sob essa árvore? Você não ouviu? Um homem encontrou a verdade! Precisamos fazer alguma coisa urgentemente, pois, se esse homem realmente encontrou a verdade, a nossa existência está em perigo, a nossa profissão está em perigo; ele pode cortar nossas raízes”.
O velho demônio riu e disse: “Acalme-se, por favor. Você é novato, e por isso está tão perturbado. Não se preocupe, tenho a minha equipe, e ela já começou a trabalhar”.
O discípulo afirmou: “Mas eu não vi ninguém de nós lá”.
O demônio disse: “Eu trabalho de muitas maneiras. Os eruditos estão lá, os instruídos estão lá, os filósofos estão lá, os teólogos estão lá. Não se preocupe, eles farão tanto barulho contra e a favor, criarão tantos argumentos que a tênue e serena voz da verdade será silenciada por eles. Não precisamos nos preocupar. Esses eruditos, essas pessoas cultas e esses professores são a minha equipe, eu trabalho por meio deles; eles estão a meu serviço, são meus agentes secretos. Não se preocupe; você não viu meus discípulos ali porque preciso ir disfarçado. Mas cheguei lá, minha equipe começou a trabalhar, já cercou a pessoa e ela não pode fazer nenhum mal. E ela logo morrerá, pois é velha, e então minha equipe será seus apóstolos, seus sacerdotes, e eles darão um jeito em tudo”.

OSHO
1931 – 1990
.
(*) Título do livro, do qual foi extraído esse texto, publicado em 2007

17 setembro 2009

Hã??

Se estivermos realmente atentos,
podemos fundar a vida sobre apenas
uma frase de um mestre iluminado;
qualquer uma, de qualquer um...

16 setembro 2009

TUDO

absolutamente tudo
já foi dito

antes

só que
ninguém
prestou atenção...

nem mesmo quando
alguém gritou
depois

de uma cerimonia
de cremação:

Uma salva de palmas pro churrasqueiro!!!

[ah, pois é...]

26 julho 2009

21 julho 2009

AMANHÃ

deixamos nossas raízes em algum lugar,
passamos, flutuamos.
não viemos para ficar,
muito menos para trazer;
viemos para levar
o quanto puder
ao menor custo,
no menor tempo.

criaremos brilhantes fachadas sociais;
fingiremos ser o que temos;
sacrificaremos nossas crianças
em altares tecnológicos;
venderemos nossas almas
em catedrais de consumo;
sim, passaremos;
pela graça de Deus, passaremos.

11 junho 2009

É

pela boca, pelos olhos
por todos os poros
dentro [aqui]
em todos os lugares
onde possa existir
o impossível

onde estás
onde dói
imenso, imerso [no mundo]:
coração
coração
coração

06 abril 2009

SALAS*

Não ligue pr'essas caras tristes
Fingindo que a gente não existe
Sentadas, são tão engraçadas
Donas das suas salas...

Cazuza
1958 – 1990

(*) Título criado pelo autor do blog sobre um verso da música Bete Balanço

14 março 2009

D O R

uma dor um salto
um recomeço

ilumino
o
u
a....d....o....r....m....e....ç....o
.

NÃO TÃO

..
– Não chegue perto.

– Mas isso é um assalto!

– Desculpe, pensei ser afeto.

– Então, vou dizer que te amo.

– Violência não!...
.
.
..
.

NUNCA

.
.
.
.
.
.
.
não deixa de
v i v e r
hoje

o que podes
f a z e r..
amanhã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

QUEM NÃO DANÇA VAI PRO CÉU

Que nossa ilha está predestinada a afundar ou perder superfície para as águas é coisa mais que sabida no rumor dos interiores. Dizem até que, sob a lua cheia, as bruxas do Cascaes contaram algum causo sério sobre a irremediável submersão.

Isto posto, fui numa festa de sábado, natalício de neo-bruxa nos costados da Lagoa. Era chuva que Deus mandava, água pelas canelas, birita vinda da Escócia. Descobri, não sem espanto, que a mulherada de hoje [quase muitas] não amolece os quartos na dança, quer dizer, aquela coisa de chamar na chincha elas nem sabem o que é.

– Deixar-me guiar por macho, to fora! Desculpa-se, meio sem jeito, a sensual balançante. Insisto um pouco, não sou de largar peleia:

– Te ensino..., heart to heart, entendeu?! – Ta bom, mas cuide dos calos.

Aos poucos, bem ajeitada, vai se amoldando no abraço, ficando quente e calminha [viu..., foi bom pra você também?!].

Estiquei um pouco o papo: – Então, quer dizer que o feminismo passou do ponto; foi tal a independência entre os sexos, que dançar junto virou quase chauvinismo. – Aliás, fazer qualquer coisa junto, com qualquer um, está ficando complicado, né?! – Pois é, ta cada um por si... não sei onde querem parar! – Epa, vai devagar.. já ta querendo me conduzir. – Calma, dengosa, só queria sincronizar... aqui ninguém ta no comando, a não ser, é claro, o DJ lá em cima.

– Isso é metafórico?! – Não, ta mais pra metadêntrico, como diria o meu amigo Cabeça.

Mudando de assunto, comentei com urbanista conterrânea, colega que dança bem e macio: se nossa missão é levar esse pessoal lá pra serra quando a maré crescer, vamos ter que selecionar um pouco; todo mundo não cabe mesmo e as pontes terão mão única.

– É verdade, e não será tipo Noé: casal de tudo que é pêlo. Vamos levar só bicho gente; outros, só os de muita estima.

– Então ta combinado! Criaremos a Civilização das Terras Altas [garçom, mais scotch no meu gelo]. Será auto-sustentável e
do bem, do jeito que Deus gosta. – Tem que ser muito melhor e diferente, pois se ficar igual a esta não vale a pena fazer força. – Também acho: um novo urbanismo, uma ética porreta, e gente da melhor qualidade.

– Pois é, voltamos àquele ponto... e a tal peneira na turma, como é que vamos fazer?
– Eu sugiro critério único: tem que saber dançar junto... quem não souber, ta fora.
– Boa... vamos subir o morro dançando, qual a tribo dos felizes.
– E quem não aprendeu a dançar junto, tadinhos?!
– Bem, não poderemos fazer nada... quem não dançar vai pro céu.



P.S.: Dedico esta crônica a meus queridos amigos Betina Adams, Enio Martins, e Silvia Lenzi [por ordem de entrada...]