09 outubro 2010

ontem é hoje

[...] Todas essas coisas, família, pátria, talvez sejam mais encantadoras na imaginação de pessoas como nós, que passamos muito bem sem pátria e sem família, do que em qualquer realidade. Parece-me sempre que eu sou um viajante, que está indo a algum lugar, que tem um destino.

[...] Também uma criança no berço, se a olharmos detidamente, tem o infinito nos olhos. Em suma, eu não sei nada, mas justamente este sentimento de não saber nada torna a vida real que vivemos atualmente comparável a um simples trajeto de trem. Andamos depressa, mas não distinguimos nenhum objeto de muito perto, e sobretudo não conseguimos ver a locomotiva.

[...] A vida futura dos artistas através de suas obras, não vejo grande coisa nisto. Sim, os artistas continuam passando adiante a tocha. Delacroix aos impressionistas, etc. Mas será que isto é tudo?


Se uma boa e velha mãe de família, com idéias bastante limitadas e martirizadas no sistema cristão, fosse imortal assim como o crê, e isto seriamente, e não serei eu a contradizê-la, por que um burro de carga tuberculoso ou nervoso como Delacroix e Goncourt, com idéias amplas, também não o seriam?


Vincent Van Gogh
[1853 – 1890]
Em carta ao irmão, em 1888

lá é aqui

outra vez, mais perto


o novo de novo

02 outubro 2010

GU GU DA DA

Por que tantos adultos focam todas as suas atenções [e vidas] nas crianças?
Numa projeção pueril, buscariam refazer o contato com sua criança interior. Inconscientemente, procuram do lado de fora algum resquício do seu próprio SER original.
Todos querem, verdadeiramente,
poder encontrar [e seguir]
a si mesmos.
As crianças refletiriam, então, o objeto dessa busca.

18 setembro 2010

plim plim

não gosto do plim plim do despertador, do celular, do alarme, ou da globo; prefiro ficar acordado...

E.T.

eu, tu, ele…
faço, és, tem…
pronomes e verbos: é isso, então, que move este mundo?
ah, ta... pelo entusiasmo, lá de cima, parecia ser algo bem mais interessante...
valeu, gente.

fui!

A M A

Jesus, em seu único mandamento:
“Ama a Deus com todo o teu coração,
com toda a tua alma,
com todo o teu entendimento,
e com toda a tua força;
e ama ao próximo como a ti mesmo.”
[Marcos 12:29-31]

E se hoje, finalmente,
já és capaz de reconhecer
Deus
em ti,
em tudo
e em todos,
então,
simplesmente,
AMA

05 setembro 2010

SATORI

A viagem real começa quando o primeiro satori acontece. Quando você teve um primeiro vislumbre, a confiança surge. Então, você não está mais tateando no escuro; você agora sabe; você mesmo sabe. Não vem de alguma autoridade – não é o que Osho diz, não é o que Buda diz, não é o que Cristo diz. Você se tornou uma testemunha; você simplesmente sabe; é sua própria experiência, natural como uma semente. Mas não se preocupe: uma vez que a semente está lá, a árvore estará vindo.
OSHO

24 julho 2010

MONEY?

Talvez não tenhamos ainda o distanciamento histórico necessário para percebermos as repercussões da crise internacional em curso. Mais do que financeira, ética, ou ideológica [seria o fim do capitalismo como o conhecemos?], ela vem materializar de forma contundente o processo de insustentabilidade em que nossa civilização se meteu. Não foi coincidência o fato de ter sido atingido em cheio o centro nervoso do sistema, o coração dos Estados Unidos; provavelmente tenha sido a forma mais eficaz de acordar o mundo para a verdadeira crise global que bate à nossa porta. Numa das últimas cenas do filme “Uma Verdade Inconveniente”, lançado há uns cinco anos, Al Gore passeia no shopping de um aeroporto e diz que, depois de mais de dez anos dando palestras, tinha a impressão de que ninguém prestava atenção aos seus alertas sobre as mudanças climáticas e, muito menos, a emergência de uma conscientização planetária. Tudo continuava exatamente igual no modo de vida americano difundido ao redor do mundo. Num documentário lançado em 2009, talvez o mais importante de sua carreira, o polêmico diretor Michael Moore exibe as entranhas de um império cambaleante e, podemos acreditar, nada mais será como antes. Segue abaixo o trailer legendado [o filme está na maioria das locadoras]. Não deixe de assistir também aos "extras" que são, a meu ver, tão ou mais interessantes do que o filme principal.
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11 julho 2010

Gracias


...........................................................................................Mercedes Sosa

Agradeço à Vida
Violeta Parra
[tradução livre]

Agradeço à Vida que me tem dado tanto.
Me deu dois olhos que, quando os abro,
perfeito distingo o preto do branco,
e no alto céu seu fundo estrelado
e nas multidões o homem que amo.

[Agradeço à Vida que me tem dado tanto.
Me deu os ouvidos que, em sua amplitude,
ouvem noite e dia grilos e canários;
martelos, turbinas, latidos, chuviscos
e a voz tão terna do meu bem amado.]

Agradeço à Vida que me tem dado tanto.
Me deu a voz e o abecedário,
com ele as palavras que penso e declaro:
mãe, amigo, irmão e luz iluminando
a rota da alma dele que estou amando.

Agradeço à Vida que me tem dado tanto.
Me deu a marcha dos meus pés cansados;
com eles andei cidades e charcos,
praias e desertos, montanhas e planícies,
e por tua casa, tua rua e teu pátio.

Agradeço à Vida que me tem dado tanto.
Me deu o coração que agita meu corpo
quando vejo o fruto do cérebro humano;
quando vejo o bom tão longe do mau,
quando vejo o fundo dos teus olhos claros.

Agradeço à Vida que me tem dado tanto.
Me deu o sorriso e me deu o pranto.
Assim eu distingo o alegre do triste,
os dois materiais que formam meu canto,
e o canto que é vosso, que é o mesmo canto
e o canto de todos, que é o meu próprio canto.

Agradeço à Vida.
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08 julho 2010

Dizem por aí...

Com a mão no interruptor, ele mantinha os discípulos atentos em volta da lâmpada; ao amanhecer, todos dormiam...

eu sou o SOL*

Desculpe
Estou um pouco atrasado
Mas espero que ainda dê tempo
De dizer que andei
Errado e eu entendo

As suas queixas tão justificáveis
E a falta que eu fiz nessa semana
Coisas que pareceriam óbvias
Até pra uma criança

Por onde andei?
Enquanto você me procurava []

[*] Título criado para um trecho da música “Por Onde Andei”, de Nando Reis.

06 julho 2010

meditação

A internet é a mais perfeita representação da mente humana jamais criada. Abra um site qualquer ou, melhor ainda, um dos chamados provedores. Quando você clica e intervém no conteúdo da tela, em meio a profusão de banners, hiperlinks e pop-ups, é imediatamente remetido a novas e sucessivas telas, cada qual assemelhada à anterior em sua infinidade de chamarizes coloridos. Este mecanismo é muito similar ao dos pensamentos que surgem de forma exponencial na tela de nossa mente. A única alternativa, ou porta de saída, para essa viagem imaginária, nos dois casos, excetuando-se, claro, a possibilidade extrema de desligar a "máquina", envolve nossa atenção. Se você apenas observar a tela sem intervir de forma alguma, o conteúdo torna-se cada vez mais monótono a ponto de, subitamente, você se dissociar completamente da geradora de informações. A esse estado de atenção, quando se trata da mente, chama-se meditação: todos os seus sentidos estão atentos, mas você não segue nem alimenta a corrente de pensamentos, não intervém na "tela", apenas observa. O observador, então, está no centro de todo o processo e começa a perceber que há uma distancia, um vazio, um silêncio entre ele e os pensamentos, e também entre um pensamento e outro. Os pensamentos passam a ser reconhecidos como eventos externos ao  observador, assim como os ruídos, os cheiros e o que mais vier aos sentidos. A expansão deste vazio silencioso ocorre gradativamente, à medida que nos aprofundamos. O ápice desse aprofundamento consciente é chamado pelos místicos de iluminação ou renascimento. Lá, em meio ao silêncio e ao vazio plenos, encontramos o essencial, a verdade, aquilo que realmente viemos buscar. Então, você continuará recorrendo à sua mente para as questões práticas, a comunicação, ou para buscar alguma informação necessária ao seu processo criativo, assim como já o faz com o seu computador. Entretanto, esta mente operacional deixará de ser autônoma e controladora de sua vida e passará a ser usada como uma ferramenta, acessada a sua vontade. Parece simples..., e é. Tudo o mais é excesso de informação. Por incrível que pareça, essa simplicidade tornou-se uma barreira criada, claro, pela própria mente, que tem uma irresistível atração pelo complexo e pelo difícil. Segundo nossa cultura, nada pode ser conquistado facilmente: é preciso muito esforço para alcançar o bom e o bem. Não precisamos discorrer aqui sobre isso, pois estamos imersos no modo de vida gerado por este paradigma...

26 junho 2010

NÃO LEIA ISTO

parece incrível,
mas
para saber
é preciso, antes,
se

d
e
s
i
n
f
o
r
m
a
r

A Voz do Silêncio*

"...tu próprio és o objeto de tua procura..."

[*] Livro do qual foi destacada esta frase, escrito por Helena Blavatsky [1831 - 1891]

01 maio 2010

PLIM PLIM

estamos atentos a sua distração*



[*] irreflexão, desatenção, alheamento, divisão ou separação do que estava junto ou concentrado; entreter = fazer demorar ou esperar com palavras vãs, iludir, retardar, desviar a atenção.

10 abril 2010

O ARQUIVISTA

Um talento inato. Situações, coisas ou pessoas: nada escapava ao seu ímpeto de dar nomes e colocar tudo em seu lugar. Eram tantas as gavetas que sobrava pouco espaço para si.
Não perdia tempo, nem se arriscava em especulações; assim que o objeto entrava em foco, colava uma etiqueta. Pronto: nunca mais veria aquilo com outros olhos.
De alguma forma, as definições sumárias roubavam do objeto a sua novidade, o que lhe dava uma sensação de controle e segurança até o próximo confronto.
Sabia que essa atitude estreitava as possibilidades e amesquinhava a vida, mas, por outro lado, o livrava de experiências potencialmente ameaçadoras.
Caso lhe faltassem, acrescentava às palavras um número de ordem, tais como “feio3, excelente9, absurdo36 ou imperdível45”. Ao dar com algo que não pudesse catalogar imediatamente, colava um rótulo como “louco” ou “esquisito”.
Após o rito sumário, um sorriso incontido pairava sobre o mundo e avançava a passos largos.
Para o menor sinal de dúvida, óculos escuros: “– Não sei aonde vou, mas tenho pressa. Eu faço e desfaço, sou o cara que move e transforma coisas em outras coisas”.
E o homem fez história: adeptos do arquivismo despontaram em toda parte, alcançando níveis extraordinários de projeção social e conforto – ao que todos se apressaram em chamar de "qualidade de vida".
Os problemas afloraram quando se tornou inviável rotular tantos personagens, sentimentos, relacionamentos e produtos cada vez mais efêmeros – na verdade, tudo virou produto. Na confusão das prateleiras nada mais era real. Passou-se a consumir – ou “viver”, segundo os arquivistas publicitários – virtualmente.
Enquanto isso, a Vida – com sua generosidade e permanente transformação – foi sendo deixada, literalmente, de fora. Aquela sensação de segurança escasseou. Já não havia capacidade de assimilação no “mundo das dez mil coisas”.
Foi então que, de repente, todos passaram a olhar com mais atenção pelas janelas: lá fora, tudo parecia mais pleno e feliz: os beija-flores, as flores, as tempestades, as palmeiras ao vento e até os cães de guarda.
Uma onda contemplativa ganha forma: “– Onde perdemos o fio da meada? Vamos tentar parar o trem que já anda por conta própria e fincar os pés na terra! Ah, a Terra... ainda haverá lírios no campo?”
E o arquivismo, finalmente, tropeçou nas etiquetas:
“– Talvez a Vida não precise de novas palavras, nem de velhas, e apenas siga seu curso, no Silêncio, com ou sem os arquivistas".

23 janeiro 2010

VERÃO ÀS VEZES

um fazendo social
outro banca o bom menino
aquele anuncia a morte
esse sendo eficiente

uma diz nada com nada
outra chega de repente
aquela é a resolvida
essa a pobre de mim

este faz o tipo sábio… tudoaomesmotempoagora
sem arte
às vezes
arde

na linha do

A dura verdade embalada em mentiras fofas a gente aceita bem; é que conforto não combina com dureza...

tu, NÃO

.
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pela deificação do mestre a igreja transforma compaixão em autopiedade* e consagra a impossibilidade como caminho.
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[*] quando “eles não sabem o que fazem”, e “não são dignos que se entre em sua morada”...                                                                                                                   vide TAO*