no meu planeta os vegetais dão flores
e frutos
sombra e
folhas
de onde venho, os vegetais dão seiva
vida
no meu planeta os animais dão leite
e força
proteção e
conforto
de onde venho, os animais dão sangue
vida
no meu planeta ninguém vende
troca ou estoca
ninguém negocia
quem vive no meu planeta
simplesmente
dá
30 dezembro 2007
19 dezembro 2007
louCURA
Prefiro quando te desesperas
Quando perdes a razão
Pois expondo
O peito ao mundo
Gritando e abrindo os braços
És essencialmente tu
E menos o que pretendes
Quando perdes a razão
Pois expondo
O peito ao mundo
Gritando e abrindo os braços
És essencialmente tu
E menos o que pretendes
08 dezembro 2007
O CARANGUEJO E O MEDO
Bate uma vontade irresistível de saltar da cadeira de alumínio e rolar pela areia. Vez por outra esta criança me arrebata, quando a seriedade do mundo fica insuportável.
Talvez por inusitada, a atitude não parece desagradar aos vizinhos gordos, que devoram mistos e cervejas quentes; percebe-se até uma pontinha de inveja, perpassando olhares sob os óculos escuros. Deito e rolo sem pudor, feito posta de tainha rumo à frigideira.
Acho que os Marias-Farinha estão em época de desova. Um grupo me cerca rapidamente, saindo de suas tocas que eu mal havia notado. Instalado a nível, posso fitá-los diretamente nas esferinhas pretas; ficam imóveis e também me observam [quem é o bicho esquisito invadindo nosso território? Também gosta de areia... bom sinal!]. Quebro a inércia lançando areia sobre um deles, que recua e se entoca. Os outros continuam impassíveis, apesar de muito próximos. Fico intrigado: por que a turma toda não se mandou? Enxergariam mal? Certamente que não; perceberam-me a distancia. Será que não incorporam o medo gerado no outro? Sim... só pode ser isso: cada qual reage somente ao estímulo direto, experiência vivida na pele, ou melhor, na casca.
Bingo!
Atenção freudianos: não existe paranóia entre os crustáceos!
Enquanto os donos da praia aprofundam tranqüilamente suas galerias [cochichos com sanduíches não representam perigo imediato], um pensamento me assalta: e se a maré subir de repente... Isso costuma acontecer depois do meio-dia – a memória factual avisa. Meus companheiros certamente terão as tocas inundadas e, definitivamente, não parecem preocupados; por que então eu estaria, se o máximo que pode acontecer é o mar encharcar minha barriga e uns poucos pertences?!
Assim como os caranguejos, nada tenho de perene a beira d’água; não construí por aqui, exceto algum castelo lúdico. Acho até que esse negócio de fazer coisas é uma forma que inventamos de permanecer na Terra [antes de simplesmente viver, queremos produzir e deixar marcas indeléveis]. Daí seguimos correndo a esmo e adiando o presente como seres imortais; nem percebemos que nossa real divindade está bem aqui onde o ego nos escapa.
Olhemos em volta: o essencial nasceu feito e é de graça. De que mais precisamos além do sol, quando invadimos a praia feito crianças – ou caranguejos? O que poderia ser melhor que a água fresca num revigorante banho de mar, ou ao saciarmos a sede num riacho cristalino – se poupamos algum? O que almejamos para além das árvores, quando à sua sombra saboreamos um fruto maduro? Existirá algo além da plenitude, ao compartilharmos um abraço orgástico? E afinal: que dádiva é maior que a própria Vida – em maiúscula, claro –, que nos foi entregue de bandeja, numa incrível “coincidência” cósmica?
Mas, voltemos à praia; para mim está resolvido: continuarei aqui tomando sol. Daqui a pouco, se a maré subir – e ela subirá –, simplesmente subiremos juntos, tanto quanto for necessário.
Eu, você, e os caranguejos...
Talvez por inusitada, a atitude não parece desagradar aos vizinhos gordos, que devoram mistos e cervejas quentes; percebe-se até uma pontinha de inveja, perpassando olhares sob os óculos escuros. Deito e rolo sem pudor, feito posta de tainha rumo à frigideira.
Acho que os Marias-Farinha estão em época de desova. Um grupo me cerca rapidamente, saindo de suas tocas que eu mal havia notado. Instalado a nível, posso fitá-los diretamente nas esferinhas pretas; ficam imóveis e também me observam [quem é o bicho esquisito invadindo nosso território? Também gosta de areia... bom sinal!]. Quebro a inércia lançando areia sobre um deles, que recua e se entoca. Os outros continuam impassíveis, apesar de muito próximos. Fico intrigado: por que a turma toda não se mandou? Enxergariam mal? Certamente que não; perceberam-me a distancia. Será que não incorporam o medo gerado no outro? Sim... só pode ser isso: cada qual reage somente ao estímulo direto, experiência vivida na pele, ou melhor, na casca.
Bingo!
Atenção freudianos: não existe paranóia entre os crustáceos!
Enquanto os donos da praia aprofundam tranqüilamente suas galerias [cochichos com sanduíches não representam perigo imediato], um pensamento me assalta: e se a maré subir de repente... Isso costuma acontecer depois do meio-dia – a memória factual avisa. Meus companheiros certamente terão as tocas inundadas e, definitivamente, não parecem preocupados; por que então eu estaria, se o máximo que pode acontecer é o mar encharcar minha barriga e uns poucos pertences?!
Assim como os caranguejos, nada tenho de perene a beira d’água; não construí por aqui, exceto algum castelo lúdico. Acho até que esse negócio de fazer coisas é uma forma que inventamos de permanecer na Terra [antes de simplesmente viver, queremos produzir e deixar marcas indeléveis]. Daí seguimos correndo a esmo e adiando o presente como seres imortais; nem percebemos que nossa real divindade está bem aqui onde o ego nos escapa.
Olhemos em volta: o essencial nasceu feito e é de graça. De que mais precisamos além do sol, quando invadimos a praia feito crianças – ou caranguejos? O que poderia ser melhor que a água fresca num revigorante banho de mar, ou ao saciarmos a sede num riacho cristalino – se poupamos algum? O que almejamos para além das árvores, quando à sua sombra saboreamos um fruto maduro? Existirá algo além da plenitude, ao compartilharmos um abraço orgástico? E afinal: que dádiva é maior que a própria Vida – em maiúscula, claro –, que nos foi entregue de bandeja, numa incrível “coincidência” cósmica?
Mas, voltemos à praia; para mim está resolvido: continuarei aqui tomando sol. Daqui a pouco, se a maré subir – e ela subirá –, simplesmente subiremos juntos, tanto quanto for necessário.
Eu, você, e os caranguejos...
DEVAGAR
“Se você não sabe o que está fazendo, faça devagar”, reza um princípio econômico contemporâneo.
Se em tempos remotos recebemos perdão em massa na base do “eles não sabem o que fazem”, a desculpa perdeu a validade, e convenhamos que o prazo foi pra lá de razoável...
Senão, vejamos: Tudo o que sempre precisamos para sobrevivência e fruição a natureza ofereceu com qualidade e abundância. O problema é que nossa ambição ou percepção de saciedade e segurança jamais conheceu limites. Como resultado, o generoso provedor foi ficando tipo, de saco cheio.
A sorte está lançada: Ou qualificamos e diminuímos o ritmo dos nossos fazeres no Planeta – o qual sugamos como uma fruta madura –, ou de repente será nossa vez de entrar no suco.
Uma mudança de paradigma exigiria um processo acelerado de conscientização e sabemos que isso não é tarefa fácil, até porque o mundo já tem gente saindo pelo ladrão. Historicamente, temos olhado praticamente o tempo todo para nossos próprios umbigos, mas tudo bem – quer dizer, nem tanto.
Uma iniciativa aqui, outra ali, cada um contribuindo com o seu melhor, poderíamos alcançar o tal patamar crítico suficiente para realizar avanços importantes. O poder da comunicação nunca foi tão avassalador; se está mal direcionado – parece claro que está – poderíamos adequá-lo a uma mudança de foco e prioridades.
Pode-se dizer que cada um carrega em si toda a experiência humana, mesmo que não tenhamos consciência disso: O ritmo alucinado da civilização [pós] industrial – que ao invés de gerar mais tempo livre com a evolução das máquinas fez delas seu modelo de vida – é refletido em nosso espelho diariamente, quando perseguimos os ponteiros do relógio como um cão atrás do rabo.
Peraí, stop! Estamos com pressa de que mesmo? Para chegar onde? Será que corremos tanto apenas para ganhar dinheiro e consumir mais? Será que essa ansiedade generalizada é uma condição real de sobrevivência ou mera questão de ego e poder? Agimos feito manada rumo ao precipício? Talvez nem tanto, mas não é de hoje que temos “o olho maior que a barriga”.
Dar mais tempo e espaço para si mesmo; comer devagar e fazer a siesta; apreciar e fazer arte; namorar “fora de hora”; ir mais ao cinema ou à praça do bairro; ler, filosofar; para essas “bobagens” ninguém mais tem tempo. Vivemos numa espécie de "fast tudo", mergulhados até o gogó no excesso de informação.
Mesmo correndo o risco de parecer simplista, vou meter minha colher na geléia geral: A idéia seria ampliarmos o conceito do “slow food”, dando inicio a um movimento com sotaque tupiniquim, meio “Macunaíma”, que poderíamos chamar de “Faça devagar – dê um tempo ao Planeta!”
Muitas pessoas tipicamente urbanas têm sonhado com uma vida tranquila junto à natureza, sem perceber que a tão almejada paz depende mais de posturas pessoais do que de lugares paradisíacos num "futuro" que, obviamente, nunca chega.
Sabe aquela situação em que gostaríamos que o tempo parasse ou que pelo menos seguisse em slow motion?! Pois bem, a proposta é que “façamos de conta” que temos um controle remoto capaz de diminuir o ritmo da aceleração habitual.
Certamente, cada um terá uma forma pessoal de expressar o que seria “dar um tempo” a si mesmo e ao Planeta. Deixe seu comentário, compartilhe, ou dê um nome para a tartaruguinha aí em cima!
Se em tempos remotos recebemos perdão em massa na base do “eles não sabem o que fazem”, a desculpa perdeu a validade, e convenhamos que o prazo foi pra lá de razoável...
Senão, vejamos: Tudo o que sempre precisamos para sobrevivência e fruição a natureza ofereceu com qualidade e abundância. O problema é que nossa ambição ou percepção de saciedade e segurança jamais conheceu limites. Como resultado, o generoso provedor foi ficando tipo, de saco cheio.
A sorte está lançada: Ou qualificamos e diminuímos o ritmo dos nossos fazeres no Planeta – o qual sugamos como uma fruta madura –, ou de repente será nossa vez de entrar no suco.
Uma mudança de paradigma exigiria um processo acelerado de conscientização e sabemos que isso não é tarefa fácil, até porque o mundo já tem gente saindo pelo ladrão. Historicamente, temos olhado praticamente o tempo todo para nossos próprios umbigos, mas tudo bem – quer dizer, nem tanto.
Uma iniciativa aqui, outra ali, cada um contribuindo com o seu melhor, poderíamos alcançar o tal patamar crítico suficiente para realizar avanços importantes. O poder da comunicação nunca foi tão avassalador; se está mal direcionado – parece claro que está – poderíamos adequá-lo a uma mudança de foco e prioridades.
Pode-se dizer que cada um carrega em si toda a experiência humana, mesmo que não tenhamos consciência disso: O ritmo alucinado da civilização [pós] industrial – que ao invés de gerar mais tempo livre com a evolução das máquinas fez delas seu modelo de vida – é refletido em nosso espelho diariamente, quando perseguimos os ponteiros do relógio como um cão atrás do rabo.
Peraí, stop! Estamos com pressa de que mesmo? Para chegar onde? Será que corremos tanto apenas para ganhar dinheiro e consumir mais? Será que essa ansiedade generalizada é uma condição real de sobrevivência ou mera questão de ego e poder? Agimos feito manada rumo ao precipício? Talvez nem tanto, mas não é de hoje que temos “o olho maior que a barriga”.
Dar mais tempo e espaço para si mesmo; comer devagar e fazer a siesta; apreciar e fazer arte; namorar “fora de hora”; ir mais ao cinema ou à praça do bairro; ler, filosofar; para essas “bobagens” ninguém mais tem tempo. Vivemos numa espécie de "fast tudo", mergulhados até o gogó no excesso de informação.
Mesmo correndo o risco de parecer simplista, vou meter minha colher na geléia geral: A idéia seria ampliarmos o conceito do “slow food”, dando inicio a um movimento com sotaque tupiniquim, meio “Macunaíma”, que poderíamos chamar de “Faça devagar – dê um tempo ao Planeta!”
Muitas pessoas tipicamente urbanas têm sonhado com uma vida tranquila junto à natureza, sem perceber que a tão almejada paz depende mais de posturas pessoais do que de lugares paradisíacos num "futuro" que, obviamente, nunca chega.
Sabe aquela situação em que gostaríamos que o tempo parasse ou que pelo menos seguisse em slow motion?! Pois bem, a proposta é que “façamos de conta” que temos um controle remoto capaz de diminuir o ritmo da aceleração habitual.
Certamente, cada um terá uma forma pessoal de expressar o que seria “dar um tempo” a si mesmo e ao Planeta. Deixe seu comentário, compartilhe, ou dê um nome para a tartaruguinha aí em cima!
10 novembro 2007
verdades mentirosas
A verdade costuma apresentar-se em múltiplas facetas. Se nos apegamos a uma delas, perdemos todas as outras. Da mesma forma, a mentira também tem suas nuances – algumas incrivelmente verdadeiras. Dessa geléia cultural emerge o que poderíamos chamar de “verdades mentirosas”. Este é o nome de uma torta-fria muito popular nos meios publicitário, religioso, e entre políticos em geral.
Sua receita tradicional é bastante simples: pegue um fato verídico, um conceito ou uma idéia incontestável e embuta nestes uma certa quantidade de inverdades, tomando cuidado para não exagerar na dose, sob o risco de desandar a mistura.
Tomando a massa como base, podemos criar recheios e coberturas fantásticos do tipo: “lave sua roupa com o sabão branco-em-fundo-branco e abra as portas para uma vida iluminada e muito leve como as nuvens do céu”, ou: “tenha uma conta no banco super-humano e nunca mais se preocupe com as coisas materiais – deixe essa chatice com a gente”, ou: “dirija o automóvel alpinista-seguro-do-ano e sinta-se eternamente livre, alcançando lugares e estados de espírito inimagináveis”.
Na linha místico-religiosa, temos o clássico: “desapegue-se do dinheiro – prove isso enriquecendo o pastor – e o universo abrirá seus infinitos canais de prosperidade”, ou: “você não é bom o suficiente para contactar o divino; eu farei isso em seu nome”, ou ainda aquela mais sutil e perigosa: “nós devemos seguir o mestre, mas, vamos nos conformar, jamais poderemos ser como ele”.
No cotidiano das praças e nos noticiários, vende-se a idéia de que “se o governante da vez é incompetente e/ou mal intencionado, tudo de ruim que acontecer nos limites do país, ou na sua rua, ou na sua vida é culpa dele”, ou então: “como muita gente ganha a vida trapaceando e explorando o próximo, então, o dinheiro é a causa da infelicidade ou, caso seja ganho com trabalho, da felicidade”.
Finalmente, temos aquela iguaria sazonal para enfeitar a torta: “se um cara tem projeção social em qualquer setor e é carismático, isso o credencia a ser um líder, que conduzirá o povo ao paraíso, já a partir do ano que vem”.
Claro que tudo isso é pra lá de óbvio, mas, às vezes, somos arrastados de tal maneira pelo rolo compressor da mídia e da rotina, que preferimos ir “tocando ficha” sem refletir ou ter posição alguma que conteste o chamado senso comum; um termo, aliás, que anda perigosamente próximo da covardia coletiva e da acomodação.
De qualquer forma, é sempre bom lembrarmos que o bufet da vida é variado o suficiente para evitarmos pratos como esses, e que a chamada realidade “lá fora” é criada por nós mesmos, “aqui dentro”, e, definitivamente, não é um filme que pagamos pra ver enquanto comemos pipoca e comentamos com o vizinho...
Sua receita tradicional é bastante simples: pegue um fato verídico, um conceito ou uma idéia incontestável e embuta nestes uma certa quantidade de inverdades, tomando cuidado para não exagerar na dose, sob o risco de desandar a mistura.
Tomando a massa como base, podemos criar recheios e coberturas fantásticos do tipo: “lave sua roupa com o sabão branco-em-fundo-branco e abra as portas para uma vida iluminada e muito leve como as nuvens do céu”, ou: “tenha uma conta no banco super-humano e nunca mais se preocupe com as coisas materiais – deixe essa chatice com a gente”, ou: “dirija o automóvel alpinista-seguro-do-ano e sinta-se eternamente livre, alcançando lugares e estados de espírito inimagináveis”.
Na linha místico-religiosa, temos o clássico: “desapegue-se do dinheiro – prove isso enriquecendo o pastor – e o universo abrirá seus infinitos canais de prosperidade”, ou: “você não é bom o suficiente para contactar o divino; eu farei isso em seu nome”, ou ainda aquela mais sutil e perigosa: “nós devemos seguir o mestre, mas, vamos nos conformar, jamais poderemos ser como ele”.
No cotidiano das praças e nos noticiários, vende-se a idéia de que “se o governante da vez é incompetente e/ou mal intencionado, tudo de ruim que acontecer nos limites do país, ou na sua rua, ou na sua vida é culpa dele”, ou então: “como muita gente ganha a vida trapaceando e explorando o próximo, então, o dinheiro é a causa da infelicidade ou, caso seja ganho com trabalho, da felicidade”.
Finalmente, temos aquela iguaria sazonal para enfeitar a torta: “se um cara tem projeção social em qualquer setor e é carismático, isso o credencia a ser um líder, que conduzirá o povo ao paraíso, já a partir do ano que vem”.
Claro que tudo isso é pra lá de óbvio, mas, às vezes, somos arrastados de tal maneira pelo rolo compressor da mídia e da rotina, que preferimos ir “tocando ficha” sem refletir ou ter posição alguma que conteste o chamado senso comum; um termo, aliás, que anda perigosamente próximo da covardia coletiva e da acomodação.
De qualquer forma, é sempre bom lembrarmos que o bufet da vida é variado o suficiente para evitarmos pratos como esses, e que a chamada realidade “lá fora” é criada por nós mesmos, “aqui dentro”, e, definitivamente, não é um filme que pagamos pra ver enquanto comemos pipoca e comentamos com o vizinho...
PRATO
Gooooooooooooool!
É nóis na rede
A fome é nossa
É nossa a sede
Dedico este milésimo prato ao torcedor fiel
que me incentivou a comprar outro carro...
É nóis na rede
A fome é nossa
É nossa a sede
Dedico este milésimo prato ao torcedor fiel
que me incentivou a comprar outro carro...
28 outubro 2007
AZUL
Como se nunca antes a tivesse visto, surgiu – onça em pés de gata mansa – por entre mesas e comensais, portando um sorriso franco e devastador – lança chama ao campo seco.
Surpreendeu-me a visão por sobre os ombros, proferindo gracejos pertinentes, me fitando de um azul que ainda guardo.
Num repente de voz doce e cruel – escorre verbo lento como um mel na língua pátria –, sentenciou: Quem me acompanha é Gabriel!
Já não era então a mim que ela falava, mas a algo parecido e que calava – parto a passo, esqueço, esgarço a alma em beiço.
Pretenderia então ter-me educado, mas em artes de guerra e desatino, para num relance estúpido e preciso, dar sumiço ao imprudente apresentado.
Se não fora dar em bufo de opereta e a platéia falsamente distraída, a teria então tomado num abraço, feito mar ao rio de amor e desespero – singro um mar azul-zulmira em caça insana ao fundo incerto de mim mesmo.
Posto então com hedonismo menos quente, sigo em paz como desperto entre dormentes, ao extraviar o ego em pleno viço.
Surpreendeu-me a visão por sobre os ombros, proferindo gracejos pertinentes, me fitando de um azul que ainda guardo.
Num repente de voz doce e cruel – escorre verbo lento como um mel na língua pátria –, sentenciou: Quem me acompanha é Gabriel!
Já não era então a mim que ela falava, mas a algo parecido e que calava – parto a passo, esqueço, esgarço a alma em beiço.
Pretenderia então ter-me educado, mas em artes de guerra e desatino, para num relance estúpido e preciso, dar sumiço ao imprudente apresentado.
Se não fora dar em bufo de opereta e a platéia falsamente distraída, a teria então tomado num abraço, feito mar ao rio de amor e desespero – singro um mar azul-zulmira em caça insana ao fundo incerto de mim mesmo.
Posto então com hedonismo menos quente, sigo em paz como desperto entre dormentes, ao extraviar o ego em pleno viço.
13 outubro 2007
TUDO DE NOVO
Numa bela manhã de segunda-feira, Marina me parou com essa:
Pai, se já temos geléia de morango e vista pro mar, de que mais a gente precisa?!
Pai, se já temos geléia de morango e vista pro mar, de que mais a gente precisa?!
22 setembro 2007
21 setembro 2007
CIDADÃO
Por toda parte, percebemos a insatisfação crescente acerca dos modelos de organização sócio-econômica e desenvolvimento. Pode-se dizer que chegamos ao ápice da valorização do consumo e da matéria, em detrimento do espírito humano e seus mais genuínos anseios de realização. Quando passamos a acreditar que o “ter” justifica todos os sacrifícios, inclusive aqueles que terminam por soterrar o “ser” individual e coletivo, acreditamos também que não há um manancial de coisas ou condições de sobrevivência suficiente para todos e que, portanto, precisamos considerar o semelhante como um concorrente em potencial.
Desta forma, a propriedade individual foi adquirindo uma dimensão extremamente mais reconhecida, buscada e valorizada do que os chamados bens de uso comum. Olhamos para a cidade e percebemos que o convívio nas ruas e praças vem sendo substituído pelo “lazer de consumo” dos shopping-centers, enquanto o parque infantil perde espaço para a TV e o videogame.
Mesmo sem considerarmos a idéia de que todas as coisas existentes – notadamente as naturais – pertencem a todos os habitantes do planeta, podemos constatar que o espaço público, aquilo que é de todos, vem perdendo significância no inconsciente coletivo, principalmente se é percebido como algo a que ninguém pertence ou ainda como propriedade do Poder Público estabelecido.
A própria nomenclatura das ruas e praças tem contribuído de alguma forma para reforçar este conceito. Ao longo da história, as evocações poéticas e peculiares da cultura local foram sumariamente substituídas pela personalização de eventos oficiais, notadamente os de cunho bélico e político.
A título de ilustração, podemos citar alguns espaços públicos de Florianópolis, que um dia foram conhecidos – e reconhecidos – como: Cais da Liberdade; Rua do Segredo e Rua das Flores, e que posteriormente receberam as seguintes denominações: Rua Antonio Luz – em homenagem a um “fiscal do consumo”; Rua Bento Gonçalves – militar da Revolução Farroupilha e Rua Pedro Ivo – político e herói pernambucano. O exemplo mais pungente dessa prática ocorreu em 1894, quando o município deixa de se chamar Desterro para reverenciar o militar alagoano Floriano Vieira Peixoto, o segundo Presidente da República, que deixou por aqui um legado de violência e assassinatos contra cidadãos que se opuseram ao regime.
Quando ideologias como esta, alienantes do exercício da cidadania, passam a ser aceitas e assimiladas pela sociedade, podemos dizer que, assim como na selva, temos no embate social urbano dois grandes grupos em evidência: os predadores e os indiferentes, sendo que estes últimos, via de regra, assumem a condição de presas ou vítimas.
O primeiro grupo, o dos predadores, perpetua os ideais egoísticos e competitivos e nos propõe: pegue a sua parte o quanto antes, pois, como se dizia nas praias e planícies desta ilha, “farinha pouca, meu pirão primeiro!”. Então abrimos as janelas e vemos nossas praias, dunas, encostas e manguezais ocupados por invasões dos mais diversos tipos: palacetes e barracos, favelas e hotéis de luxo, centros comerciais e quiosques, esgotos a céu aberto e lixo de toda espécie. Ao andarmos pelas ruas, esbarramos em incontáveis “ambulantes” – sempre fixos – e somos agredidos por painéis publicitários gigantescos com suas promoções "imperdíveis”.
Como combustível desse processo autofágico, anuncia-se dinheiro em postes que, por sua vez, também ocupam uma boa parte da exígua área destinada ao pedestre. Mais adiante, somos contemplados por toldos de cobertura, mesas, cocôs de cachorro de madame e os indefectíveis desníveis que adaptam o passeio público que, afinal, “não é de ninguém”, à entrada de garagem, esta sim, propriedade intocável do “doutor fulano”.
O segundo grande grupo em evidência, o dos indiferentes, mesmo não tendo o ímpeto de apropriar-se ou invadir o espaço público, considera-o como “coisa do governo” – problema que não é seu –, ou seja, alguém que não ele próprio deve ocupar-se de criar, manter e zelar pelas áreas comuns. Essa postura, que pela passividade alimenta a primeira, isenta o cidadão de qualquer responsabilidade pelo resultado das intervenções públicas ou privadas.
Como uma das conseqüências, temos obras arquitetônicas, que diferentemente do que ocorria no passado, não são concebidas ou inseridas como parte do cenário urbano, mas sim como elementos isolados, fruto da inspiração e preferência estética de projetistas e empreendedores. A cidade torna-se um aglomerado de obras desvinculadas entre si e sem qualquer comprometimento com a harmonia do entorno.
Se considerarmos que a urbe sempre representou muito mais que um simples agrupamento edificado, com seus múltiplos usos e interligações viárias, concluímos que o espaço público é o elemento e o meio que justifica a própria existência da cidade. Não é por acaso que a convivência e as trocas sociais se dão, fundamentalmente, nos lugares a que todos acessam e não no recesso dos lares e demais ambientes privados.
A legislação urbanística, por si só, não tem demonstrado eficiência e certamente não garantirá no futuro a qualificação e preservação de nossas áreas públicas. Acredito que um processo educativo e participativo consistente poderá, em médio prazo, realizar avanços efetivos.
Mudanças urgentes e necessárias não passarão por fórmulas científicas ou planos milagrosos, mas por uma elevação do nível de consciência. Este é o milagre possível a partir da experiência vivida, a partir da disposição e da entrega de todos e de cada um.
Quando o indivíduo é tocado por uma nova idéia e incorpora em si mesmo uma mudança de conceitos e atitudes, isso é percebido gradativamente em sua moradia, rua, bairro e finalmente na cidade como um todo.
Traduzindo em uma frase: A cidade será o melhor de nós!
Desta forma, a propriedade individual foi adquirindo uma dimensão extremamente mais reconhecida, buscada e valorizada do que os chamados bens de uso comum. Olhamos para a cidade e percebemos que o convívio nas ruas e praças vem sendo substituído pelo “lazer de consumo” dos shopping-centers, enquanto o parque infantil perde espaço para a TV e o videogame.
Mesmo sem considerarmos a idéia de que todas as coisas existentes – notadamente as naturais – pertencem a todos os habitantes do planeta, podemos constatar que o espaço público, aquilo que é de todos, vem perdendo significância no inconsciente coletivo, principalmente se é percebido como algo a que ninguém pertence ou ainda como propriedade do Poder Público estabelecido.
A própria nomenclatura das ruas e praças tem contribuído de alguma forma para reforçar este conceito. Ao longo da história, as evocações poéticas e peculiares da cultura local foram sumariamente substituídas pela personalização de eventos oficiais, notadamente os de cunho bélico e político.
A título de ilustração, podemos citar alguns espaços públicos de Florianópolis, que um dia foram conhecidos – e reconhecidos – como: Cais da Liberdade; Rua do Segredo e Rua das Flores, e que posteriormente receberam as seguintes denominações: Rua Antonio Luz – em homenagem a um “fiscal do consumo”; Rua Bento Gonçalves – militar da Revolução Farroupilha e Rua Pedro Ivo – político e herói pernambucano. O exemplo mais pungente dessa prática ocorreu em 1894, quando o município deixa de se chamar Desterro para reverenciar o militar alagoano Floriano Vieira Peixoto, o segundo Presidente da República, que deixou por aqui um legado de violência e assassinatos contra cidadãos que se opuseram ao regime.
Quando ideologias como esta, alienantes do exercício da cidadania, passam a ser aceitas e assimiladas pela sociedade, podemos dizer que, assim como na selva, temos no embate social urbano dois grandes grupos em evidência: os predadores e os indiferentes, sendo que estes últimos, via de regra, assumem a condição de presas ou vítimas.
O primeiro grupo, o dos predadores, perpetua os ideais egoísticos e competitivos e nos propõe: pegue a sua parte o quanto antes, pois, como se dizia nas praias e planícies desta ilha, “farinha pouca, meu pirão primeiro!”. Então abrimos as janelas e vemos nossas praias, dunas, encostas e manguezais ocupados por invasões dos mais diversos tipos: palacetes e barracos, favelas e hotéis de luxo, centros comerciais e quiosques, esgotos a céu aberto e lixo de toda espécie. Ao andarmos pelas ruas, esbarramos em incontáveis “ambulantes” – sempre fixos – e somos agredidos por painéis publicitários gigantescos com suas promoções "imperdíveis”.
Como combustível desse processo autofágico, anuncia-se dinheiro em postes que, por sua vez, também ocupam uma boa parte da exígua área destinada ao pedestre. Mais adiante, somos contemplados por toldos de cobertura, mesas, cocôs de cachorro de madame e os indefectíveis desníveis que adaptam o passeio público que, afinal, “não é de ninguém”, à entrada de garagem, esta sim, propriedade intocável do “doutor fulano”.
O segundo grande grupo em evidência, o dos indiferentes, mesmo não tendo o ímpeto de apropriar-se ou invadir o espaço público, considera-o como “coisa do governo” – problema que não é seu –, ou seja, alguém que não ele próprio deve ocupar-se de criar, manter e zelar pelas áreas comuns. Essa postura, que pela passividade alimenta a primeira, isenta o cidadão de qualquer responsabilidade pelo resultado das intervenções públicas ou privadas.
Como uma das conseqüências, temos obras arquitetônicas, que diferentemente do que ocorria no passado, não são concebidas ou inseridas como parte do cenário urbano, mas sim como elementos isolados, fruto da inspiração e preferência estética de projetistas e empreendedores. A cidade torna-se um aglomerado de obras desvinculadas entre si e sem qualquer comprometimento com a harmonia do entorno.
Se considerarmos que a urbe sempre representou muito mais que um simples agrupamento edificado, com seus múltiplos usos e interligações viárias, concluímos que o espaço público é o elemento e o meio que justifica a própria existência da cidade. Não é por acaso que a convivência e as trocas sociais se dão, fundamentalmente, nos lugares a que todos acessam e não no recesso dos lares e demais ambientes privados.
A legislação urbanística, por si só, não tem demonstrado eficiência e certamente não garantirá no futuro a qualificação e preservação de nossas áreas públicas. Acredito que um processo educativo e participativo consistente poderá, em médio prazo, realizar avanços efetivos.
Mudanças urgentes e necessárias não passarão por fórmulas científicas ou planos milagrosos, mas por uma elevação do nível de consciência. Este é o milagre possível a partir da experiência vivida, a partir da disposição e da entrega de todos e de cada um.
Quando o indivíduo é tocado por uma nova idéia e incorpora em si mesmo uma mudança de conceitos e atitudes, isso é percebido gradativamente em sua moradia, rua, bairro e finalmente na cidade como um todo.
Traduzindo em uma frase: A cidade será o melhor de nós!
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