09 dezembro 2009

AGORAQUI *

nascemos na hora em que se nasce
[inventamos então o tempo e penduramos a vida na folhinha]
choramos no lugar onde se chora
[inventamos então o presente de aniversário e o passado embalsamado]
comemos na hora em que se come
[inventamos então a miséria e nos preparamos para o futuro]
gritamos no lugar onde se grita
[inventamos então a pólvora e caçamos lebres na primavera]
paramos na hora em que se para
[inventamos então as ampulhetas e os big bens]
compramos no lugar onde se compra
[inventamos então as coisas e os desejos em série]
amamos na hora em que se ama
[inventamos então os pesticidas para lagartas, borboletas e margaridas]

e rezamos no lugar onde se reza
pecamos na hora em que se peca
dançamos no lugar onde se dança
juramos na hora em que se jura
esquecemos no lugar onde se esquece
e traímos na hora em que se trai

e, então, morremos na hora em que se morre:
paramos a roda imaginária
criamos um sentido mais sentido
vivemos o eterno agora
universo aqui
big bang já

e nascemos na hora em que se nasce

[*] Breve releitura do poema "Sentido", do livro "Ao Coração da Coxilha Rica.

Nenhum comentário: