Talvez não tenhamos ainda o distanciamento histórico necessário para percebermos as repercussões da crise internacional em curso. Mais do que financeira, ética, ou ideológica [seria o fim do capitalismo como o conhecemos?], ela vem materializar de forma contundente o processo de insustentabilidade em que nossa civilização se meteu. Não foi coincidência o fato de ter sido atingido em cheio o centro nervoso do sistema, o coração dos Estados Unidos; provavelmente tenha sido a forma mais eficaz de acordar o mundo para a verdadeira crise global que bate à nossa porta. Numa das últimas cenas do filme “Uma Verdade Inconveniente”, lançado há uns cinco anos, Al Gore passeia no shopping de um aeroporto e diz que, depois de mais de dez anos dando palestras, tinha a impressão de que ninguém prestava atenção aos seus alertas sobre as mudanças climáticas e, muito menos, a emergência de uma conscientização planetária. Tudo continuava exatamente igual no modo de vida americano difundido ao redor do mundo. Num documentário lançado em 2009, talvez o mais importante de sua carreira, o polêmico diretor Michael Moore exibe as entranhas de um império cambaleante e, podemos acreditar, nada mais será como antes. Segue abaixo o trailer legendado [o filme está na maioria das locadoras]. Não deixe de assistir também aos "extras" que são, a meu ver, tão ou mais interessantes do que o filme principal.
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24 julho 2010
11 julho 2010
Gracias
...........................................................................................Mercedes Sosa
Agradeço à Vida
Violeta Parra
[tradução livre]
Agradeço à Vida que me tem dado tanto.
Me deu dois olhos que, quando os abro,
perfeito distingo o preto do branco,
e no alto céu seu fundo estrelado
e nas multidões o homem que amo.
[Agradeço à Vida que me tem dado tanto.
Me deu os ouvidos que, em sua amplitude,
ouvem noite e dia grilos e canários;
martelos, turbinas, latidos, chuviscos
e a voz tão terna do meu bem amado.]
Agradeço à Vida que me tem dado tanto.
Me deu a voz e o abecedário,
com ele as palavras que penso e declaro:
mãe, amigo, irmão e luz iluminando
a rota da alma dele que estou amando.
Agradeço à Vida que me tem dado tanto.
Me deu a marcha dos meus pés cansados;
com eles andei cidades e charcos,
praias e desertos, montanhas e planícies,
e por tua casa, tua rua e teu pátio.
Agradeço à Vida que me tem dado tanto.
Me deu o coração que agita meu corpo
quando vejo o fruto do cérebro humano;
quando vejo o bom tão longe do mau,
quando vejo o fundo dos teus olhos claros.
Agradeço à Vida que me tem dado tanto.
Me deu o sorriso e me deu o pranto.
Assim eu distingo o alegre do triste,
os dois materiais que formam meu canto,
e o canto que é vosso, que é o mesmo canto
e o canto de todos, que é o meu próprio canto.
Agradeço à Vida.
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08 julho 2010
Dizem por aí...
Com a mão no interruptor, ele mantinha os discípulos atentos em volta da lâmpada; ao amanhecer, todos dormiam...
eu sou o SOL*
Desculpe
Estou um pouco atrasado
Mas espero que ainda dê tempo
De dizer que andei
Errado e eu entendo
As suas queixas tão justificáveis
E a falta que eu fiz nessa semana
Coisas que pareceriam óbvias
Até pra uma criança
Por onde andei?
Enquanto você me procurava […]
Estou um pouco atrasado
Mas espero que ainda dê tempo
De dizer que andei
Errado e eu entendo
As suas queixas tão justificáveis
E a falta que eu fiz nessa semana
Coisas que pareceriam óbvias
Até pra uma criança
Por onde andei?
Enquanto você me procurava […]
[*] Título criado para um trecho da música “Por Onde Andei”, de Nando Reis.
06 julho 2010
meditação
A internet é a mais perfeita representação da mente humana jamais criada. Abra um site qualquer ou, melhor ainda, um dos chamados provedores. Quando você clica e intervém no conteúdo da tela, em meio a profusão de banners, hiperlinks e pop-ups, é imediatamente remetido a novas e sucessivas telas, cada qual assemelhada à anterior em sua infinidade de chamarizes coloridos. Este mecanismo é muito similar ao dos pensamentos que surgem de forma exponencial na tela de nossa mente. A única alternativa, ou porta de saída, para essa viagem imaginária, nos dois casos, excetuando-se, claro, a possibilidade extrema de desligar a "máquina", envolve nossa atenção. Se você apenas observar a tela sem intervir de forma alguma, o conteúdo torna-se cada vez mais monótono a ponto de, subitamente, você se dissociar completamente da geradora de informações. A esse estado de atenção, quando se trata da mente, chama-se meditação: todos os seus sentidos estão atentos, mas você não segue nem alimenta a corrente de pensamentos, não intervém na "tela", apenas observa. O observador, então, está no centro de todo o processo e começa a perceber que há uma distancia, um vazio, um silêncio entre ele e os pensamentos, e também entre um pensamento e outro. Os pensamentos passam a ser reconhecidos como eventos externos ao observador, assim como os ruídos, os cheiros e o que mais vier aos sentidos. A expansão deste vazio silencioso ocorre gradativamente, à medida que nos aprofundamos. O ápice desse aprofundamento consciente é chamado pelos místicos de iluminação ou renascimento. Lá, em meio ao silêncio e ao vazio plenos, encontramos o essencial, a verdade, aquilo que realmente viemos buscar. Então, você continuará recorrendo à sua mente para as questões práticas, a comunicação, ou para buscar alguma informação necessária ao seu processo criativo, assim como já o faz com o seu computador. Entretanto, esta mente operacional deixará de ser autônoma e controladora de sua vida e passará a ser usada como uma ferramenta, acessada a sua vontade. Parece simples..., e é. Tudo o mais é excesso de informação. Por incrível que pareça, essa simplicidade tornou-se uma barreira criada, claro, pela própria mente, que tem uma irresistível atração pelo complexo e pelo difícil. Segundo nossa cultura, nada pode ser conquistado facilmente: é preciso muito esforço para alcançar o bom e o bem. Não precisamos discorrer aqui sobre isso, pois estamos imersos no modo de vida gerado por este paradigma...
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