Eu boto minha mão no fogo!
A expressão popular, que remonta à idéia de arriscar-se à fogueira em defesa da inocência alheia, está perdendo significância.
O flanelinha da praça avisou: “A coisa anda tão feia doutor, que nem por si mesmo neguinho arrisca a pele!”.
Pois é... o que temos assistido – ao vivo e a cores – é a perda total de referenciais públicos de ética e honradez.
Dia desses, conversando sobre a iniciação dos jovens à vida adulta, lembramos que em quase todas as tradições os rituais de passagem eram guiados pelos mais velhos e sábios de cada comunidade. Então, pensemos rápido: Quem são os sábios de hoje?
Nos primórdios da democracia, o senado era destinado aos luminares da nação; aqueles com clarividência para os momentos difíceis e as questões menos simples. Os religiosos de todos os tempos desde pajés e magos, passando por sacerdotes das mais diversas doutrinas, representaram um norte para as civilizações.
Já houve um tempo – acreditem meninos – que chamar alguém de deputado era saudação elogiosa; o jovem que abraçava a vida religiosa era motivo de orgulho para a família, e obtinha atestado vitalício de boa índole, lucidez e sobriedade.
Num momento crucial para a humanidade, o que podemos dizer desses antigos referenciais e das mais recentes celebridades? [Sem falar nos big brothers, claro!]. Ontem, brincando com um amigo disse que seus cabelos brancos lhe davam um ar de senador. Ele, também brincando – mas não muito –, disse que eu “não precisava ofender...”.
A grande mídia nos ensina: os homens e mulheres notórios deste tempo estão mais interessados em desfilar vaidades, ou digladiar-se por projeção social e dinheiro, do que em servir de farol para quem quer que seja.
Diante dessa carência generalizada de maturidade, não é de se admirar que a garotada queira ficar longe, pelo maior tempo possível, do chamado mundo adulto – então, temos “adolescentes” com mais de trinta anos aos montes por aí. E não nos enganemos, achando que é apenas uma circunstância econômica ou mero comodismo. A verdade é que ser “gente grande” não é mais tão atrativo...
Um amigo médico me passou esta “ficha”: como as pessoas não estão conseguindo se interiorizar e encontrar um sentido para as próprias vidas, acabam lotando os consultórios e laboratórios em busca de exames – cada vez mais sofisticados –, para então, de alguma forma, verem-se por dentro...
É tragicômico sim, mas certamente não é brincadeira.
Eu acho mesmo que é por aí – e só por aí – a saída para a ratoeira planetária em que nos enfiamos: ou cada indivíduo trata de se conscientizar e crescer de verdade – e não falamos de usar anabolizantes na academia – ou, como naquele filme do ratinho Roddy, iremos todos, literalmente, “por água abaixo...”.
28 fevereiro 2008
14 fevereiro 2008
03 fevereiro 2008
CINZAS
Teu lugar no meu braço
Estaria ainda quente,
Se o tomasses
Naquele instante
E rodaríamos pelas avenidas,
Riríamos muito e nos olharíamos
Em gestos nossos
Simples e suficientes
Feito um filme que recomeça,
Após um lapso em que a luz se acende,
Seguiríamos felizes
Como se tudo tivesse acontecido
Estaria ainda quente,
Se o tomasses
Naquele instante
E rodaríamos pelas avenidas,
Riríamos muito e nos olharíamos
Em gestos nossos
Simples e suficientes
Feito um filme que recomeça,
Após um lapso em que a luz se acende,
Seguiríamos felizes
Como se tudo tivesse acontecido
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