14 março 2009

D O R

uma dor um salto
um recomeço

ilumino
o
u
a....d....o....r....m....e....ç....o
.

NÃO TÃO

..
– Não chegue perto.

– Mas isso é um assalto!

– Desculpe, pensei ser afeto.

– Então, vou dizer que te amo.

– Violência não!...
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..
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NUNCA

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não deixa de
v i v e r
hoje

o que podes
f a z e r..
amanhã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

QUEM NÃO DANÇA VAI PRO CÉU

Que nossa ilha está predestinada a afundar ou perder superfície para as águas é coisa mais que sabida no rumor dos interiores. Dizem até que, sob a lua cheia, as bruxas do Cascaes contaram algum causo sério sobre a irremediável submersão.

Isto posto, fui numa festa de sábado, natalício de neo-bruxa nos costados da Lagoa. Era chuva que Deus mandava, água pelas canelas, birita vinda da Escócia. Descobri, não sem espanto, que a mulherada de hoje [quase muitas] não amolece os quartos na dança, quer dizer, aquela coisa de chamar na chincha elas nem sabem o que é.

– Deixar-me guiar por macho, to fora! Desculpa-se, meio sem jeito, a sensual balançante. Insisto um pouco, não sou de largar peleia:

– Te ensino..., heart to heart, entendeu?! – Ta bom, mas cuide dos calos.

Aos poucos, bem ajeitada, vai se amoldando no abraço, ficando quente e calminha [viu..., foi bom pra você também?!].

Estiquei um pouco o papo: – Então, quer dizer que o feminismo passou do ponto; foi tal a independência entre os sexos, que dançar junto virou quase chauvinismo. – Aliás, fazer qualquer coisa junto, com qualquer um, está ficando complicado, né?! – Pois é, ta cada um por si... não sei onde querem parar! – Epa, vai devagar.. já ta querendo me conduzir. – Calma, dengosa, só queria sincronizar... aqui ninguém ta no comando, a não ser, é claro, o DJ lá em cima.

– Isso é metafórico?! – Não, ta mais pra metadêntrico, como diria o meu amigo Cabeça.

Mudando de assunto, comentei com urbanista conterrânea, colega que dança bem e macio: se nossa missão é levar esse pessoal lá pra serra quando a maré crescer, vamos ter que selecionar um pouco; todo mundo não cabe mesmo e as pontes terão mão única.

– É verdade, e não será tipo Noé: casal de tudo que é pêlo. Vamos levar só bicho gente; outros, só os de muita estima.

– Então ta combinado! Criaremos a Civilização das Terras Altas [garçom, mais scotch no meu gelo]. Será auto-sustentável e
do bem, do jeito que Deus gosta. – Tem que ser muito melhor e diferente, pois se ficar igual a esta não vale a pena fazer força. – Também acho: um novo urbanismo, uma ética porreta, e gente da melhor qualidade.

– Pois é, voltamos àquele ponto... e a tal peneira na turma, como é que vamos fazer?
– Eu sugiro critério único: tem que saber dançar junto... quem não souber, ta fora.
– Boa... vamos subir o morro dançando, qual a tribo dos felizes.
– E quem não aprendeu a dançar junto, tadinhos?!
– Bem, não poderemos fazer nada... quem não dançar vai pro céu.



P.S.: Dedico esta crônica a meus queridos amigos Betina Adams, Enio Martins, e Silvia Lenzi [por ordem de entrada...]